segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A temporalidade na mente liberal e a incoerência dos seus valores

Bora brincar de faz-de-conta? Imagina que você já é adulto (e para praticamente 99,9% dos que estão lendo, isso é verdade), e tem pelo menos, mais de 30 anos, morando na região mais pobre, menos observada pelo poder público e a mais violenta da cidade.

Você mora neste lugar porque quando tinha três anos, homens armados invadiram a casa dos seus pais na área nobre da cidade, violentaram sua mãe na frente do seu pai antes de assassinar os dois e tomarem posse da casa que era deles e, consequentemente, sua por direito de herança.

De alguma forma, você conseguiu ser resgatado e foi criado nesta área perigosa, vivendo uma vida de restrições, sendo explorado, recebendo baixos salários e mal conseguindo se sustentar. Sua vida inteira foi pautada no sentimento de ódio pela condição que aqueles bandidos armados lhe obrigaram a viver depois de terem usurpado o que era dos seus pais.

Um dia você descobre que, com a ajuda certa – que neste faz-de-conta você tem – você possui condições de retomar tudo que lhe pertence. Você poderia expulsar os descendentes dos homens que mataram seus pais, tomaram sua casa e obrigaram você a passar fome e frio na quebrada. Não se trata de dizer que você arriscaria sua vida e talvez se desse mal nesse combate. Faça de conta que a vitória é certa. Só depende de você querer ir ao combate.

Você sabe que os homens que assassinaram seus pais estão mortos, e naquela casa que um dia foi sua, moram atualmente os descendentes daqueles homens: Todos cientes da origem daquela propriedade, morando nela mesmo assim e sem que jamais tivessem procurado você para lhe devolver o patrimônio que os pais deles roubaram dos seus. São pessoas que vivem a vida confortável que você teria vivido se seus pais não tivessem sido mortos.

Diante dessas informações, o que você faz? Retoma o que é seu? Deixa pra lá, afinal já se passaram tantos anos...? Justifique sua resposta, sempre à luz da ideia de resgatar a propriedade dos bens que foram usurpados de você.

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