quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

A Ford e as falácias neoliberais

O encerramento das atividades da Ford no Brasil, com a demissão em massa de mais de 5.000 trabalhadores, é mais um retrato do fracasso das políticas de austeridade, inerentes ao neoliberalismo. As reformas trabalhistas aprovadas no governo golpista de Michel Temer, em 2017, retiraram direitos dos trabalhadores, sob a desculpa esfarrapada de que seria melhor perder alguns direitos mantendo alguns postos de trabalho em vez de resguardar direitos que não poderiam ser suportados pelos empregadores, originando demissões.

O que vimos, entretanto, foi um empobrecimento em massa da classe trabalhadora que, com a redução do seu poder aquisitivo, passou a consumir menos. Não precisa ser muito esperto para saber que, quanto menor for o consumo, menor será a produção e, consequentemente, menores serão as taxas de lucro do empresário. A fórmula está pronta e ciclo vicioso está completo: se o empresário ganha menos, irá demitir mais.

Da mesma forma, a falácia de que taxar grandes fortunas gera fuga de capital não se sustenta quando pensamos que, em razão de um Congresso Nacional omisso, nunca aprovamos uma lei regulamentadora da impostos sobre grandes fortunas, prevista na nossa Constituição Federal desde 1988, e mesmo assim, o Brasil perdeu 316.680 entre 2016 e 2019 (dados do levantamento Demografia das Empresas e Empreendedorismo 2017, divulgados em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de outras 716.000 empresas que fecharam somente no período da pandemia, conforme aponta outra pesquisa, a Pesquisa Pulso Empresa: Impacto da Covid-19 nas Empresas, também realizada pelo IBGE.

A Ford anunciou o fechamento das fábricas em Camaçari, BA, e Taubaté, SP, com a migração para a Argentina, país que acabou de regulamentar a taxação sobre grandes fortunas, com alíquotas variáveis entre 2%, para patrimônios declarados em valor equivalente a 13 milhões de reais, até 3,5%, quando a fortuna declarada for de 181 milhões de reais. A criação do tributo prevê uma arrecadação aproximada de valor equivalente a 18,5 bilhões de reais, a serem investidos em saúde e produção.

Enquanto o neoliberalismo concentra riquezas nas mãos de poucos, fábricas são fechadas porque muitos deixam de consumir. Políticas de redistribuição de renda, como as que vimos durante os governos Lula e Dilma, por sua vez, asseguram o consumo das classes mais pobres, garantindo a sobrevivência de fábricas, a manutenção de empregos e o crescimento da economia.

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