quinta-feira, 16 de setembro de 2021

O discurso que toda esquerda deveria gritar

O erro dos esquerdistas liberais e dos sociais-democratas é defender a institucionalidade e deixar espaço para extremistas de direita se apropriarem do discurso que deveria ser nosso, os radicais de esquerda: justamente o discurso de que essa institucionalidade que temos não nos atende e deveria ser desmontada. Parece coisa de bolsominions? Pois era para nós estarmos gritando que o STF é golpista. Era para nós estarmos dizendo que não deveria haver eleição porque eleição não muda nada e tanto faz votar em quem for. Era para nós estarmos dizendo que é preciso dar um golpe e romper com as instituições "democráticas". Mas esse republicanismo que insistimos em defender em nome de uma suposta civilidade nos silencia quanto ao que deveria ser dito e permite que Bolsonaro e seus aliados seduzam suas bases com o discurso que deveria ser nosso.

A gente não fala "nem Bolsonaro nem Lula" pra não parecer "isentão", esse câncer que em 2018 proporcionou a vitória do energúmeno com sua omissão, ao dizer que era uma escolha difícil decidir entre um professor e um fascista. Mas, era para a gente estar falando! Nem Bolsonaro, nem Lula: a saída está mais à esquerda. A gente não fala para cassar a concessão da Globo porque a Globo agora tá "batendo" no Bolsonaro. Hipocrisia de uma emissora que estava perfeitamente ciente das consequências de eleger um fascista e pavimentou todo o terreno para ele vencer. Era para sermos as vozes mais altas querendo calar a Globo, a Record, a Rede TV e outras emissoras que propagam a voz do capital. E em seu lugar, criar um canal de TV estatal para comunicar com as massas os valores necessários em uma sociedade comunista.

Insistimos em dar mais importância à forma que ao conteúdo. E, com isso, sob o pretexto de não nos igualarmos na forma aos bolsominions, desprezamos todo o conteúdo que deveria ser propagado como a base do nosso discurso. Não falamos em fechamento do STF porque isso supostamente nos igualaria aos fascistinhas. E sim, apenas falar em fechar o STF nos igualaria a eles. Mas, quando revelamos o suporte material por trás da nossa fala, ou seja, o conteúdo que preenche essa fala, revelamos nossa diferença em relação a eles: eles querem fechar o STF para manterem seus privilégios reacionários. Nós deveríamos querer seu fechamento exatamente para derrubarmos os privilégios em uma ordem social que depende da existência desse STF para se manter. Vale esclarecer que a alusão ao STF aqui é só um exemplo. Mas, podemos ampliar esse mesmo princípio de desmantelamento institucional para criticar diversos outros aparatos de manutenção da ordem capitalista. Podemos dizer que as universidades públicas estão uma droga e que o serviço público não atende à população, até mesmo que imposto é roubo. Desde que fundamentássemos nosso argumento com o afastamento da ordem vigente e buscássemos melhorá-los e ampliá-los, em vez de usarmos como desculpa para privatizar serviços e direitos, apenas preocupados no lucro do empresariado.

Se adotássemos o discurso que deveríamos ter adotado desde sempre, talvez hoje estivéssemos nos comunicando com essa legião de idiotas que se deixou seduzir pelo discurso da extrema direita e que deveria estar sendo propagado aos quatro ventos por nós, radicais de esquerda.

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