terça-feira, 23 de junho de 2020

A prefeitura que não vai cuidar de você

Decreto da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro libera passageiros em pé dentro dos ônibus, possibilitando maior lotação. A mesma prefeitura havia liberado o comércio e o retorno da classe trabalhadora aos seus respectivos postos de trabalho.

"Mas, Guto, isso significa que a prefeitura se importa com a classe trabalhadora e, ao liberar mais vagas nos ônibus, permite que essas pessoas não demorem tanto tempo nos pontos de ônibus aguardando o próximo carro. A medida reduz as filas nos pontos e permite que os mais pobres possam acordar um pouco mais tarde, já que agora os ônibus cabem mais gente! É uma ótima medida!"

Não é. O Município, assim como o Estado, atua em favor da classe patronal. O ente público é um instrumento para beneficiar a classe burguesa e suas medidas sempre visam a beneficiar esses detentores de capital financeiro.

Primeiro, cede à pressão do empresariado e libera o empregado a voltar ao trabalho para que possa voltar a gerar o lucro do seu patrão. Para isto, usa a mesma retórica do presidente da república: "as pessoas irão morrer de fome porque a economia vai quebrar". Esse discurso nada mais é que uma chantagem praticada pelo governo, que pode ser lida da seguinte forma: "no neoliberalismo, nós, o Estado, estamos pouco nos lixando para vocês, classe trabalhadora. Por isso mesmo, não asseguramos sua subsistência, negando-lhes o básico, para que, quando estiver sem um centavo no bolso, sem comida, sem remédio, você vá correndo vender sua força de trabalho ao seu patrão". Chantagem.

Segundo, proporciona os meios para garantir o retorno do trabalhador ao trabalho. Para não se indispor com o empresariado de transportes públicos, não lhe exige que aumente as frotas de ônibus em circulação. Isso geraria mais gastos para as empresas de ônibus. Em vez disso, a prefeitura permite que os ônibus fiquem lotados. Afinal, se apenas a massa pobre trabalhadora faz uso de transporte público, se morrerem alguns trabalhadores de Covid-19, haverá outros para substitui-los e manter a engrenagem capitalista girando.

Lembrem-se sempre da frase de Júnior Durski, sócio de Luciano Hulk na rede de restaurantes Madero: "A economia não pode parar apenas porque vão morrer cinco ou sete mil pessoas". Já morreram cinquenta mil. A economia não parou. E os grandes empresários não quebraram.

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